sexta-feira, 16 de maio de 2014

Vendedores de guarda-chuva

Não há pessoa mais oportunista no mundo do que vendedor de guarda-chuva. Talvez devesse até mesmo estar lá no dicionário. O.por.tu.nis.ta: aquele que vende guarda-chuvas na rua logo que o tempo começa a enfeiar. Da onde vêm todos eles? Da onde surgem aos milhares a partir do mínimo sinal de precipitação? Basta o céu começar a ser tomado pelas nuvens, as pessoas caminhando mais depressa para ir logo para casa, toda uma atmosfera que paira sobre o centro da cidade e lá estão eles, montando seus guarda-chuvas abertos em um lugar seguro para garantir seu spot; alguns circulando com seus produtos pendurados no braço; outros gritando alto para anunciar seu preço. Barganhas, pechinchas, negociações. Embalagens espalhadas pelo chão. A lei da oferta e da procura.

-Um pequeno, preto, por favor.
-Dez reais.

Era daqueles que se dobram com o primeiro vento que bate. Talvez eu não tenha medido corretamente a proporção da chuva, ou apenas tenha priorizado a provisoriedade da situação.

Eram seis da tarde. Trânsito parado, buzinas. Pessoas correndo. Pessoas correndo molhadas. Guarda-chuvas que colidem. A melancolia da hora azul ganha um novo significado em meio à agitação do centro da cidade. Protesto, música indígena, comédia. Cachorrinhos de pelúcia que caminham sozinhos e se dispersam pelo calçadão ao som de um guitarrista tatuado que toca repetidamente o mesmo riff: é a abertura de Cowboys from Hell da banda Pantera.

Movimento de corpos, caos, água, poças. Não achei que excepcionalmente hoje a chuva pudesse melhorar o meu humor, mas com meu guarda-chuva frágil esbarrando na multidão apressada e com as botas já encharcadas, tudo que consegui foi cantarolar em meus pensamentos: singing in the rain, just singing in the rain...

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